Historias e Memorias

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Visita Guiada RTP - Palácio Marquês de Pombal

Palácio Marquês de Pombal - Visita Guiada RTP 

O Programa Visita Guiada da RTP, apresentado pela Paula Moura Pinheiro, esteve no Palácio Marquês de Pombal para mostrar a história do Palácio da Vila de Oeiras e os desenvolvimentos para o território que vieram com ele.

Assiste ao episódio completo aqui.


 

A CASA DE MASSARELOS NUM TESTAMENTO RÉGIO

A CASA DE MASSARELOS NUM TESTAMENTO RÉGIO

O casamento, até há não muito recuado tempo, limitava-se a constituir um contrato determinado por interesses à margem dos afectos. Restringia-se a servir interesses patrimoniais ou conveniências de natureza económica, social ou política, que se sobrepunham à vontade dos dois protagonistas contraentes. O estreitamento das relações entre famílias ou grupos, casas nobres ou reinantes era assim selado. A aceitação da legitimidade suprema do casamento de amor começou a afirmar-se no século XIX. Esta realidade justifica que a cada passo se encontrem muitas situações de “mal maridadas” (quer no feminino, quer no masculino), como pitorescamente se dizia na Idade Média, e proliferem os filhos naturais. Na realidade, o amor vivia-se, geralmente, fora do matrimónio. E é óbvio que os reis não escapavam a esta “regra”. Os seus casamentos eram determinados pelo interesse do Reino.



Pouco se conhece da história da casa de Massarelos, em Caxias. Foi adquirida pela rainha D. Maria II, já depois da integração dos bens da Casa Real no património do Estado – os bens próprios nacionais, como então se designava -, o que não sucedeu com o palácio de Caxias. Por isso, ao contrário da maioria das casas e palácios utilizados pelos monarcas, este imóvel permaneceu integrado no património privado dos reis e, como tal, sucessivamente, transmitido por herança, até D. Manuel II. Após a morte deste, criada a Fundação da Casa de Bragança, com base nos bens que a República reconhecera-lhe a titularidade, a casa de Massarelos passou a pertencer a esta instituição, que aqui instalou, recentemente, o seu conselho de administração.
Mas outro rumo poderia ter conhecido a casa de Massarelos, se tivesse sido executada a carta-testamento elaborada pelo rei D. Luís a 31 de Outubro de 1869, no dia em que perfazia 31 anos.
De facto, D. Luís, em carta manuscrita, no “uso pleno das minhas faculdades”, dispõe-se a “traçar a minha vontade”, alegando que “é dever de todo o homem de bem providenciar o futuro dos indivíduos que lhe são caros.” E acrescenta que “é um dever de honra e de consciência”. Assim, depois de referir que a lei “marca claramente qual a herança que lhes [aos filhos do matrimónio] compete”, lega “a terça parte da minha fortuna em inscrições ou papéis de crédito […] a Marina Mora e seu filho Pedro Luís António Pretti”. E vai mais além: “Desejo outrossim que a casa denominada de Massarelos junto ao paço de Caxias fique inclusa nesta herança”. Ainda deixa a Marina Mota “um anel que uso no quarto dedo da mão esquerda com 5 brilhantes pequenos e que ella me deu”. Mas também faz questão de deixar a Pedro Luís “a medalha da Virgem que trago ao peito […] pendente a uma corrente de ouro”.
D. Luís teria especial afecto por Marina Mora e por seu filho que, significativamente, usava os nomes próprios dos dois irmãos: D. Pedro, o rei falecido prematuramente, e D. Luís, o então monarca. E esta relação não seria tão simples, dado o destaque que lhe confere o testamento e o montante legado.
Seria este um dos amores escondidos em que D. Luís foi pródigo e este Pedro Luís Pretti seu filho? É de presumir que sim.
Mas este testamento, que não foi objecto de registo notarial, terá sido anulado, antes do falecimento do rei. Se assim não tivesse acontecido, a casa de Massarelos estaria agora sob a alçada de outros proprietários.
É curioso como uma casa entra nas histórias de alcova da monarquia. E, no concelho de Oeiras, não é a única…

Jorge Miranda
(jorge.o.miranda@gmail.com)


Bibliografia: Eduardo Nobre, Paixões Reais, s. l., Quimera, 2002; Luís Nuno Espinha da Silveira e Paulo Jorge Fernandes, D. Luís, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2006; Francisco Louro, “Um Testamento Inédito do Rei D. Luís”, in Bracara Augusta, tomo XXX, fasc.69, 1976.